19.3.11

Chaves: uma lição de vida - Final!!

   Até que, enfim, chegamos a análise final, saga do seriado "Chaves" com muitas revelações. Para quem não acompanhou clique aqui e leia desde o inicio. Neste ultimo post trataremos de alguns personagens adultos e do personagem principal da série, confira:


   Dona Clotilde. Uma Senhora (“senhorita!”) desprovida de beleza que mora na casa 71. A criançada morre de medo dela por conta do seu jeito ranhenta e pelas coincidências que acontecem, então ganhou das crianças o apelido de “bruxa do 71” (só uma bruxa mesmo poria ser apaixonada por seu Madruga, :P). Sempre com seu vestido azul, ela uma pessoa dedicada aos afazeres, muito prendada e solitária. Costuma ser grosseira e mal humorada com as crianças por conta do apelido que lhe deram.
      Porém, seu mau humor e grosseria é uma mascara para a mulher gentil e amorosa que é de verdade, que necessita de respeito e carinho e que busca alguém que lhe faça feliz. Pela má aparência física e pela boa índole, dona Clotilde representa o ditado “quem vê cara não vê coração”, mensagem essa passada também no desenho A bela e a Fera. Se julgarmos pelas cores de sua roupa (e peruca), sempre azul, e sua personalidade temos em Clotilde uma ligação simbólica com o Conservadorismo. Bom analisar também que ela é um outro exemplo de humildade, visto que possui a mesma condição financeira de dona Florinda porém não se considera superior aos outros da vila. A velha possui também uma ligação com oculta com chaves e a dica sobre isso é o número de seu apartamento 71 – 7+1 = 8, isso se dá porque ela representa a solidão que chaves também enfrenta. E ahh, só como curiosidade, ironicamente a atriz Angelines, que interpreta a personagem, faleceu aos 71 anos em 1994.

     Girafales é um modesto professor de escola primária. Seu nome é referência ao animal comprido, pois ele mede 1,95 m de altura. Comporta-se como cavalheiro, é elegante, culto, educado e romântico embora um tanto durão e prepotente. O Professor adora ensinar e, pelo cargo que ocupa, se mantém na posição do redentor da verdade. É o Educador do futuro da pátria, mas sempre se enfurece com a confusão das crianças, distribuindo castigos, impondo limites e expulsando alguns da sala de aula. As pessoas desconfiam de sua sanidade mental às vezes e sempre ele é ridicularizado pelas crianças que o apelidaram de “professor lingüiça”.
    Vemos no Professor grandes valores, porém é fato que ele “enrola” Dna Florinda, mas porque? Lembram do primeiro post onde falei de Dona Florinda, que a mesma representa a “Ordem”? Vamos analisar os fatos sociais: a Ordem funcionaría muito melhor se todos os cidadãos tivessem o Conhecimento desenvolvido por sua faculdade Intelectual (essa também é a explicação do por que dona Florinda muda de personalidade quando vê Girafales – lembrando que o encontro dos dois é também uma sátira ás novelas ou filmes de “melosidade” ou “dramalhões” – principalmente os mexicanos, reparem que sempre o texto é o mesmo e a trilha sonora é do clássico “E o vento levou”!), mas sabemos que isso não acontece pois existe uma falta de responsabilidade (a mesma responsabilidade que Girafales não quer ter com Florinda, pois nunca assumiu algo sério com ela) em nosso sistema de educação que é limitado, onde muitos ainda estão fora da sala de aula (foram expulsos?). Esse personagem expressa bem o “Orgulho intelectual” e/ou o Superego – lembram das frases “Enquanto tiverem os livros nas mãos, serão pessoas honradas, serão gente de bem, em outras palavras, serão como eu” ou “Eu jamais me engano, só me enganei quando pensei que estava enganado”. É curioso que sempre o prof. Girafales de como presente a Florinda somente flores (lembrando ainda que o nome dela é FLORinda), até o Quico uma vez disse: “toda vez é sempre flores! Não pode trocar? Dar uma jóia cara, um colar de diamantes ou um carro importado?”. É engraçado como as idéias sempre são parecidas, então para entenderem um pouco vou citar uma referência muito boa que é de autoria do cantor Geraldo Vandré: “pra não dizer que não falei das flores” com ênfase na frase “...e acreditam nas flores vencendo o canhão...”. Provavelmente a música não tem nenhuma ligação com o seriado, porém a idéia é a mesma.

    Sr. Barriga, o dono da vila, é também o cobrador de aluguel (e é assim que aparece em grande maioria dos episódios). Faz pose de durão, mas na verdade ele é um bonachão, receptivo, amigo, prestativo, risonho e simpático. Podemos dizer que também é cheio de compaixão pois sempre é recebido na vila com pancadas de chaves e mesmo perdendo a paciência ele gosta do menino, também com seu Madruga por nunca despejá-lo da casa.
Seu nome [engraçado] que da referência a uma parte do seu corpo é um símbolo do capitalismo selvagem, porém Sr. Barriga é um representante irreal de um valor utópico porque, como já disse e repito: existe nele compaixão e ele ainda é uma representação de solidariedade. Ele encarna assim o bom coração pois jamais tem a coragem de expulsar o inquilino inadimplente (mesmo quando chegou a fazer ameaças ele se compadeceu e voltou atrás na decisão).
     O seriado nos dá dicas da verdadeira profissão do Barriga, em um episódio (“A catapora de Chiquinha”) ele diz a seu Madruga que vai examinar a Chiquinha, por já ter exercido a profissão de médico. Na vida real o ator Edgar Vivar também é formado em medicina e exercia a profissão antes de ser chamado para o programa. Analisando socialmente a idéia de médico é sim uma boa representação do personagem também! Todas as característica do Sr. Barriga são as mesmas dos profissionais da saúde (ênfase em compaixão e prestatividade). A falta de coragem do cara para expulsar o inquilino inadimplente também pode ser um símbolo, pois o sistema de saúde deve (perante a lei) se estender a todos – citei a “lei” porque no episódio em que Sr. Barriga quer despejar seu Madruga da casa é justo a Dona Florinda que intercede por Madruga. Também temos que lembrar que Barriga sempre leva “pancadas” ao chegar na vila que, muitas vezes, o faz perder os sentidos mas ele sempre tem compaixão e continua gostando da criança que o fere pois sabe que não é algo proposital – creio que é assim também que acontece com os profissionais da saúde, quando chega lá um paciente todo arrebentado por que estava fazendo algo de errado eles devem perder a paciência com o fato, é quase como receber uma “pancada” pela falta de atenção ou responsabilidade do paciente, ex: “histórico do paciente: tentou pular o muro e quebrou o queixo”, qualquer um logo pensa “por que esse idiota foi pular o muro?”... Enfim, o profissional da saúde cuida do paciente do mesmo jeito pois, assim como o personagem, possui a idéia que o Ser Humano é a maior riqueza.

   Jaiminho, o carteiro, é um senhorzinho simplório que traz sempre um sorriso no rosto. É desajeitado e, mesmo não sabendo andar de bicicleta, sempre traz uma consigo para que não seja mandado embora do emprego. Tal personagem é o exemplo da Preguiça: nunca faz seu serviço e sempre pede para o destinatário pegar suas correspondências na mochila ou que entregue as outras cartas nas respectivas casas. A desculpa é sempre a mesma: “tenho que evitar a fadiga”.

    Chaves é o personagem principal do seriado. Um menino órfão de pai e mãe, com 8 (olha o número ai de novo) anos, que aparece na vila de estomago vazio. Inocente, meio tonto, genioso, bondoso, sensível, leal, sonhador, companheiro e esfomeado (rs). Apronta várias confusões “sem querer querendo”. Diz que mora na casa 8 (opa, não é por acaso, lembra do nome original do seriado: “o menino do oito”?) mas sempre que alguém decide perguntar com quem ele mora ou qual seu verdadeiro nome alguma coisa interrompe a conversa e o mistério permanece. Em um livro chamado “O diário de chaves” o autor Bolaños (o cara que interpreta o Chaves e também o diretor do programa) conta que Chaves morava em um orfanato, saiu, teve contato com alguns meninos de rua e andava pela cidade, mas começou a chover muito, foi quando entrou na vila e foi acolhido por uma senhora que vivia em uma das casas, porém essa senhora faleceu e o menino passou a viver em um barril e se tornou o xodó de todos da vila. Sem casa para morar, sem ter o que comer, sua riqueza material se resume em duas bolas de gude que guarda no bolso de traz da calça. Sua falta de alimentação e sua falta de atenção o impedem de ser um bom aluno. É também muito atrapalhado e vive se queixando “ninguém tem paciência comigo...”. Vira e meche Chaves se assusta e tem um piripaque. Quando alguém o chama para brincar ele fica todo afobado imaginando como será a brincadeira (zás, zás...!!) imaginação inclusive é uma de suas características mais marcantes.
     Chaves é, sem dúvida, a mais complexa representação do programa. Além de representar 650 milhões de crianças [de rua] ele é o retrato da Simplicidade! O autor deposita em Chaves toda uma filosofia de vida. O menino não tem brinquedos maravilhosos, não é nenhum gênio, não possui nada de material e mesmo assim vive Feliz. O signo da simplicidade é a receita do seriado, tanto na forma (na criação de cenários e tals) quanto no enredo. Chaves é o lado humano, contraditório (assim como esta análise é, como já disseram, rs), moral apresentado na série. Não é porque ele é o mais pobre que é o mais infeliz - é o contrário - tão pouco o menos amado! Ele passa fome todo dia mais é alimentado de sorrisos, imaginação e fantasia. A filosofia de Gandhi dizia que quando somos felizes, quando fazemos algo que nos deixa feliz com honestidade, produziremos meios de nos alimentar, assim não haveria fome. O menino deixa expresso que qualquer criança, em qualquer situação que esteja, tem direito a felicidade, pode ter amigos e ter uma infância repleta de brincadeira e risadas quando consegue transformar seu cotidiano por vontade própria – quem não adora ver as transformações dos objetos que Chaves usa para brincar: a vassoura que vira um brinquedo de equilíbrio; O recipiente de lata que vira um bilboquê; A caixa de sapato que vira caminhão; entre outros.
Apesar das fontes concluírem que o nome original do seriado “O menino do 8” ser atribuído pelo fato de que o programa foi primeiramente apresentado no canal 08 que depois foi incorporado pela a Televisa, concluímos [após essa lonnnga análise] que na verdade o “8” é um símbolo que designa a função do personagem. O “8” é uma representação do símbolo antiqüíssimo “∞” – infinito [ou lemniscata], que faz referência a "falta de fronteira" que é nada mais que a Felicidade. O número “8”, como ja demonstrei, aparece muitas vezes no seriado e atribui até ligações aos personagens. Uma observação clara é que Chavas é apaixonado por Patty, e chega até se corromper por conta dela, é uma demonstração de que a simplicidade pode se perder quando deseja a nobreza, o nome Patty é usado até hoje para determinar riqueza ( vem do termo “Patrícios” que em Roma significava “Nobre”).

Considerações Gerais:

Como eu já disse também, após analisar os personagens todos nos identificamos com suas características: Chiquinha = vaidade; Quico = necessidade de poder; Madruga = comodismo; Girafales = orgulho; Florinda = necessidade de ordem; Pópis = egoísmo; Clotilde = solidão; Barriga = compaixão; Jaiminho = preguiça e Chaves = simplicidade. O seriado faz alusão a vida harmônica entre pobres e ricos (estão na mesma escola, mesmas festas....), altos e baixos, gordos e magros e igualdade entre homens e mulheres - o que pode ser também o sentido simbólico do número 14 que, quando unido ao símbolo “∞" do infinito chegamos diretamente ao significado mistico de um Arcano Maior (no Tarot ou na Kabala ele é o n.° 14 e tem o sinal do infinito) que é o “equilibrio universal” da existência humana em si. O número 14 também é a ligação entre seu madruga (sua dívida) e Dona Florinda, faz todo o sentido se pensarmos pelo fato de que Florinda sendo a “Ordem ou a Lei” pode interceder (coisa que ela faz) para que ele permaneça morando no local (o artigo 25 dos direitos humanos é o “direito a moradia”).


E zefini minha gente! Espero que tenham gostado, que comentem e que acompanhem o blog. Toda a semana temos posts novos onde falaremos de filmes, desenhos, seriados, livros e programas, fiquem ligados!!

4 comentários:

Ual. Quase chorei até nesse final.
Muitas verdades e muitas ligações com o cotidiano.
Parabéns, belo texto e bela análise!

Parabens!! mto bem escrito e mto bem explicado. ótima análise!!

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